1.2.16

Machismo no Rock e no Metal - Parte I

Por Chriscia Cross

Quem me conhece sabe que após um casamento abusivo me ví livre pra estudar música, fazer artes marciais e ser feliz.
Dedicava todo o meu tempo disponível aos estudos de música, fiz Villa Lobos, estudei com professores particulares de canto e guitarra. Parecia curada da depressão e da ansiedade. Comecei em uma banda modesta com letras de protesto e som punk. Não havia muito problema até uma letra ser rejeitada pelo baterista que era dono do estúdio. Ele era cristão e a letra protestava contra a corrupção religiosa. Entrei em outra banda som punk-thrash. Cheguei a fazer um show e foi aí que comecei a ter contato com a coisa toda. A maioria das bandas tinham essa coisa de 'rock é pra macho', 'pra quem toca sem camisa', pra quem urra mais grosso', 'nosso meio tem cerveja e coisas de homem'.

Eu tinha plena segurança que minhas composições eram boas e elogiadas ao passo que alguns integrantes mal sabiam ler cifras. Mesmo assim, algumas vezes quando me chamavam pra tocar em uma banda, o interesse era ter mulher pra chamar a atenção. Um adorno pra bandinha de machos deles. Fui entendendo como funcionava e comecei a rejeitar propostas. Rejeitei muitas pois analisando as falas, coisas do tipo: ' a gente quer uma integrante pra dar uma impulsionada na banda'. Tipo, caras vão ao show pra xavecar a mina da banda e isso é bom pra banda.

Meu sonho sempre foi ter uma banda de meninas mas como a vida é difícil, eu voltei a ficar muito deprimida. Em seguida, desenvolví um quadro de enxaqueca crônica que tenho até hoje. A medicação tira completamente a concentração, a memória vai pro espaço. Como se não bastasse o machismo, enfrentei também problemas de saúde. Passei por muitas bandas, sem me fixar em nenhuma. Vamos falar sobre o que ví e como sobrevivi:

Conheci meu namorado em uma banda. Começamos a compor coisas legais mas o líder da banda não gostou do fato de estarmos namorando e compondo pra banda. Ridicularizou nosso trabalho e me tirou da banda. Nota: Este sujeito não sabia nem ler um Dó na pauta. E eu meu namorado estamos juntos até hoje.

Estive em uma banda de playboyzinhos vikings. Como a banda era cover do Amom Amarth, eles viviam reclamando que não poderiam fazer a mesma performance porque os caras tocavam sem camisa como guerreiros e eles tinham uma mulher na banda. Nessa época estava começando a ficar muito doente e faltei alguns ensaios. Em um mês de início eles marcaram show e tive que tirar nove músicas para um show, porque o líder estava com pressa. Ele queria aparecer. Fizemos um show aos trancos e barrancos. O baterista esqueceu uma parte, o guitarrista solo se embolou. Mas eles tinham que reclamar do som da minha guitarra estar baixo, do meu equipamento e que toquei pro meu namorado que estava lá me dando força.  Assim como as namoradas deles estavam no evento também mas não havia problema. Não entendí... Aiás, a gente entendeu sim né meninas!

Uma outra banda, tudo corria muito bem. Eu compunha para a banda e estavamos gravando um cd demo. Tudo bem mas... O vocalista se apaixonou (ou faltou senso e respeito né, já que eu sou comprometida). Claro, saí da banda e foi algo muito ruim. A banda me fazia bem, éramos todos amigos e a banda acabou por isso. Coleguinhas machistas vão dizer: 'Por isso que não pode ter mulher em banda'. É mesmo? No seu trabalho não tem mulher? Na escola não tem mulher? Ou seja, a culpa é sempre da mulher que está alí instigando ou a culpa é do homem que não tem limites nem ética?

Muitos emails, inbox, homens me parando na rua e dizendo que queriam montar um projeto com uma mulher. E isso me perturbava pois eles nem se quer perguntavam sobre minhas experiências e habilidades. Era só uma imagem mesmo. Tem disso. Mas é só dizer não. A raiva passa.

Bom, passei por muitas legais, outras não pude manter por conta dos problemas de saúde. É muito triste passar o mês estudando algumas partituras e te dar um branco na hora do ensaio. É mito triste querer estar na música mas estar agonizando de dor na cama. Bom é isso. Além de uma figura feminina está toda uma vida. Suas lutas, seu passado, seus sonhos.

Eu sigo gostando muito do metal. Essa é minha visão interna, em que estive envolvida. No próximo vou falar das grandes bandas e todo o mercado mundial. Vai ser show! 

Aquí no primeiro show, eu tocava guitarra (banda se diluiu por ideologias diferentes punk x thrash, a amizade fica):
 

Última banda, Unconfined Souls, muito legal. A banda acabou após o desfalque de uma das guitarras:




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